O dia 18 de maio marca, no Brasil, um acontecimento que não dá orgulho a nenhum brasileiro: é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Infanto-Juvenil. Nesta mesma data, em 1973, ocorreu um crime que chocou o país. Araceli Cabrera Sanches, de 8 anos, foi seqüestrada, estuprada e morta por rapazes de uma tradicional família de Vitória, no Espírito Santo. Apesar da barbaridade, os criminosos saíram impunes.
O caso tornou-se um símbolo da luta pelos direitos e pela proteção das crianças. Em 2000, o dia 18 de maio foi escolhido para lembrar e chamar a atenção das autoridades e da sociedade civil sobre a necessidade de proteger crianças e jovens contra a violência e a exploração sexual.
Passados 10 anos, a data é parte do calendário de muitas instituições e ganhou espaço nos meios de comunicação e no cinema. Recentemente, foi lançado o filme "Sonhos Roubados", dirigido por Sandra Werneck, que conta a história de três adolescentes que têm em comum o convívio com a pobreza, os problemas típicos da adolescência, além da violência e a exploração sexual. O tema também é exposto em "Anjos do Sol", dirigido por Rudi Lagemann, no filme "Deserto Feliz", de Paulo Caldas, e muitos outros.
Segundo Ana Maria Drummond, diretora executiva da ONG Childhood Brasil, o tema entrou em pauta na mídia e nos órgãos públicos. "Os canais disponíveis para a denúncia de casos de abuso e exploração sexual infanto-juvenil, incluindo o Ligue 100 e o www.denuncie.org.br, vêm sendo mais divulgados e têm registrado um número crescente de denúncias, inúmeras das quais têm se transformado em inquéritos e condenações. Aos poucos, a sociedade vem se conscientizando sobre a importância da denúncia como ponta-pé inicial para o rompimento das situações de violência."
De acordo com a Childhood Brasil, o número de programas especializados de atendimento a crianças e adolescentes tem aumentado e houve avanços na legislação, como a Lei 11.829/2008, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e conferiu mais rigidez às punições para crimes sexuais contra crianças e adolescentes cometidos por meio da internet. A alteração também prevê penas para quem armazena material de pornografia infanto-juvenil e aos provedores.
Apesar dos avanços, ainda existem muitos desafios no combate à violência e à exploração sexual de jovens e crianças. "São necessários esforços imediatos, permanentes e integrados entre os diferentes setores. É necessária uma verdadeira mudança de mentalidade e de atitude sobre problemas que muitas pessoas ainda preferem enxergar como distantes da sua realidade. Só assim, alcançaremos resultados mais efetivos", ressalta Ana Maria Drummond.
Entidades que lidam com o problema observam que a exploração sexual é um problema causado por diversos fatores, mas que também está associado ao consumo. De acordo com pesquisa da Childhood Brasil, falta de estrutura familiar, drogas e abusos de familiares ou pessoas próximas são situações presentes na vida de muitas meninas que passaram a fazer sexo em troca de dinheiro. Além disso, 65% das meninas que responderam a pesquisa declararam que usam o dinheiro da exploração para comprar bens de consumo como celulares, tênis e roupas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário