quarta-feira, 26 de maio de 2010

Obesidade e hormônios em alimentos antecipam a chegada da puberdade

Elas largam bonecas para se dedicar a maquiagens e revistas com os astros de Hollywood. Eles folheiam escondidos revistas masculinas, sonhando com as beldades da televisão. Seria normal se não fossem crianças com até 10 anos de idade. A tendência de amadurecimento precoce é global, afirmam especialistas. Pesquisa realizada no Paraná de 2006 a março deste ano pela rede de medicina diagnóstica Dasa confirma a conclusão.
Como o ‘Informe do Dia’ revelou ontem, de 526 crianças analisadas, 89,16% apresentavam sinais de antecipação da maturidade. “Sabemos que a incidência da puberdade precoce no mundo está maior”, explicou o autor da pesquisa, o endocrinologista Mauro Scharf. O também endocrinologista Paulo Solberg, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a puberdade é precoce quando os sinais aparecem em meninas antes dos 8 anos de idade e, em meninos, antes dos 9.
“O ideal é que a criança seja avaliada logo que começar o desenvolvimento puberal, para que o médico possa analisar se é necessário interromper esse processo”, esclarece Solberg, ressaltando que, em alguns casos, a puberdade precoce está ligada a doenças. “Não é o esperado nem ideal que a menina menstrue aos 9 e anos de idade. É fundamental que essa criança seja avaliada”, destaca.
Scharf ressalta que alguns tumores, como o de suprarrenal, ovários, testículos ou sistema nervoso central, têm como sintoma a puberdade precoce. O problema também pode estar ligado à obesidade. “O corpo reconhece o peso como o de uma pessoa mais velha e dispara os mecanismos hormonais”, ressalta.
Maria Alice Bordallo, do Departamento de Endocrinologia-Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, afirma que a presença de hormônios em alimentos também pode desencadear o problema. “Estudos indicam que pesticidas e agrotóxicos aceleram a maturidade, mas em 95% dos casos em meninas a puberdade precoce é idiopática, ou seja, não tem uma causa orgânica. Nos meninos, é mais comum ter relação com alguma doença”, explica Bordallo.
Segundo a médica, a puberdade precoce pode ser interrompida por meio de injeção uma vez ao mês. “Mas cada caso é diferente. Se não for afetar a vida da criança, não tem por que tomar essa atitude”, explica, ressaltando que os pais devem ficar atentos. “São crianças mais vulneráveis a abusos sexuais, pois elas às vezes não entendem. Os pais devem ficar muito atentos e dialogar”, conclui.
O estudo da Dasa foi feito com crianças encaminhadas por médicos interessados em checar os sinais da precocidade nos pacientes e, portanto, os resultados são superiores aos da população em geral. “Os números revelam uma situação específica do Paraná com pacientes que já tinham sinais de puberdade precoce. Não foram crianças escolhidas aleatoriamente”, frisou Scharf.
Diálogo em casa sobre as mudanças no corpo
Uma vez ao mês, Júlia Assumpção, 9 anos, tem um cuidado que a maioria das meninas da sua idade ainda não tem: comprar absorventes e evitar usar roupas brancas ‘naqueles dias’. Pode parecer estranho para alguns, mas Júlia tira de letra. Tudo porque a mãe da menina, a piloto de avião Nívia Assumpção, 36 anos, logo que percebeu os sinais de amadurecimento da filha, explicou para a menina o que estaria por vir. “Quando ela completou 7 anos, começou a ter pelos pubianos. Levei ao endocrinologista e ela começou a fazer acompanhamento médico e tratamento para evitar a menstruação ”, contou Nívia.


O mesmo cuidado tem a esteticista Rosemary Bello, 38 anos. A filha, Aline Landeira, 10 anos, ainda não menstruou, mas já usa sutiã. “Quando ela completou nove anos percebi que os seios estavam crescendo. Conversamos muito e a levei ao pediatra”, contou a mãe. Rosemary afirma que o caso de Aline não é o único na turma de amigas da menina. “Todas elas já estão passando por isso. Eu me assustei, pois tive minha primeira menstruação aos 14. Mas ela lida bem com isso”, diz Rosemary.
Tão bem que Aline já pensa em usar silicone. “Se meus seios não crescerem mais, vou colocar!”, contou a menina, que trabalha como modelo infantil nos intervalos entre brincar de boneca e estudar Português e Matemática.

POR CLARISSA MELLO

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